A
dentista carioca Ingrid Oliveira, que se apresenta como noiva do goleiro Bruno
Souza, denunciou um suposto esquema de tentativa de extorsão envolvendo a juíza
Maria José Starling, da comarca de Esmeraldas (MG), e um advogado indicado pela
magistrada. A proposta seria para libertar o goleiro, réu no processo sobre o
sumiço de sua ex- amante Eliza Samudio, em troca de R$ 1,5 milhão.
Ingrid
foi ouvida pela comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas
Gerais (AL-MG) na última sexta-feira (10). Segundo a dentista, a magistrada,
que colheu depoimentos de testemunhas do caso em outubro do ano passado, teria
apresentado a ela o advogado Robson Martins Pinheiro Melo, formulador da
proposta.
A
intermediação da magistrada, conforme o depoimento de Ingrid obtido pela
reportagem do UOL Notícias, não se deteve na suposta indicação do
advogado, mas também na oferta de estadia na casa da juíza enquanto a dentista
estivesse em Minas Gerais
Ainda
conforme o relato dela, que admitiu ter tentando levantar a quantia com “amigos
de Bruno no meio esportivo”, o advogado teria passado a cobrar adiantamento do
valor antes mesmo de entrar com o habeas corpus.
A mulher contou ter procurado Cláudio Dalledone, advogado do goleiro, a quem descreveu o episódio. Ela disse ter ouvido dele a desconfiança de estar sendo vítima de tentativa de extorsão.
Ingrid
ainda relatou ter sofrido ameaças de um homem na porta da penitenciária de
segurança máxima Nelson Hungria, em Contagem (MG), onde o goleiro está preso.
Segundo
ela, o homem se identificou como policial e teria “aconselhado” a ela manter
Robson Melo no caso.
O
deputado estadual Durval Ângelo (PT), presidente da Comissão de Direitos
Humanos da Assembleia de MG, confirmou as denúncias. “Não tem inocente nessa
história. Eles não conseguiram levantar o dinheiro e disseram ter passado a ser
ameaçados por policiais civis”, disse. O deputado acusou a magistrada de
conduta irregular no caso. “Vou encaminhar esse depoimento para o Conselho
Nacional de Justiça (CNJ) e para a corregedoria do Tribunal de Justiça de Minas
Gerais”, adiantou.
O
advogado da magistrada, Getúlio Barbosa de Queiroz, afirmou que a juíza “não
precisa se defender” e acusa o deputado Ângelo de ser desafeto da sua cliente.
“Isso é arranjo desse deputado porque ele já foi condenado a pagar a ela uma
indenização por danos morais”, relata. O advogado disse que vai processar o
deputado.
Procurado
pela reportagem do UOL Notícias, Robson Melo se prontificou a responder a
perguntas que, por exigência dele, teriam de ser formuladas por e-mail, mas não
retornou o contato da reportagem até o fechamento deste texto.
O
presidente da Comissão de Ética da OAB-MG (Ordem dos Advogados do Brasil –
Seção Minas Gerais) Ronaldo Armond, explicou que, por enquanto, não irá tomar
nenhuma atitude em relação ao caso. Ele, que participou do depoimento da
dentista, disse que espera receber documentos comprobatórios das acusações.
Armond disse ter ouvido da dentista a promessa de apresentá-los.
Juíza
polêmica
A
juíza causou polêmica, no final de outubro do ano passado, ao se declarar
favorável à soltura do goleiro. Ao final da sessão realizada no fórum de
Esmeraldas para colher depoimentos de testemunhas, ela concedera entrevista
coletiva, fato incomum na magistratura. Ao defender a liberdade do atleta, a
juíza lembrou o caso da advogada Mércia Nakashima, em São Paulo, cujo corpo foi
encontrado em uma lagoa e o principal suspeito do assassinato é o ex-namorado.
“Todos
os traficantes que mandei prender em Esmeraldas estão soltos. Aquele namorado
da Mércia (Nakashima), um advogado, está solto, e lá (em São Paulo) tem
evidências, tem corpo. Qual a evidência que nós temos aqui nos autos?”, disse à
época.
Apesar
da declaração, a magistrada disse não ter examinado o processo, apenas a
denúncia do Ministério Público. “As provas periciais eu não olhei nenhuma, mas
só pelo grosso, que eu venho lendo pela mídia também, eu não vejo razão (para a
prisão). Eu não digo o Macarrão, mas o Bruno tem domicílio fixo, o Bruno tem,
ou tinha emprego, ele tem família. Eu tenho que examinar os autos, mas o que eu
estou falando é minha impressão pessoal e, não, jurídica”, afirmou.
“Em
relação ao Macarrão eu não sei, mas o Bruno deveria estar solto”, complementou
a magistrada. “Tem um que gere todos os negócios dele, o cabeça de tudo, que
dirige todos os carros dele. Quem é? Me respondam?”, disse ela, para
complementar: “O Macarrão”.
Ela
se reuniu em privado com o jogador em uma sala anexa ao local da audiência onde
ficaram por 15 minutos.
De
acordo com a assessoria do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJ-MG), ela
havia respondido a dois processos na corregedoria do órgão, mas que foram
arquivados.