Continua após os destaques >>
Pelas
ruas de terra do bairro de Itaberaba, em Juazeiro (BA), um carro com dois
pesquisadores para a cada cem metros. Um deles desce e destampa um pote de onde
saem cerca de 500 mosquitos Aedes aegypti, o transmissor da dengue. A cena
se repete há três semanas e, até julho, a expectativa é de que sejam liberados
33.000 machos por semana. Depois, a ação subirá para 50.000 a 100.000 mosquitos
por semana.
A
"pulverização" de mosquitos foi repetida 22 vezes há duas semanas. O
ritual faz parte de um projeto científico que causa expectativa na
administração pública da saúde. "Se der o resultado esperado, podemos
reduzir de maneira expressiva os números da dengue", avaliou o coordenador
do projeto, Danilo Carvalho. "Não há dúvida de que o projeto é
promissor", afirmou o diretor do Complexo Industrial e Inovação em Saúde
do Ministério da Saúde, Zichy Moyses.
Mosquito
transgênico - A chave dessa esperança está no mosquito solto no ambiente:
é uma espécie transgênica que produz filhotes que morrem antes de chegar à vida
adulta, quando podem transmitir a dengue. Na prática, a ciência patrocina o
sexo entre mosquitos que geram filhotes incapazes de espalhar a doença. O ideal
é que haja dez machos transgênicos para cada macho selvagem.
A
estratégia é semelhante à usada em outras parte do país para combater a
drosófila, a mosca da fruta: machos estéreis são liberados para disputar com a
espécie selvagem a oportunidade de cruzar. Para o macho de laboratório ficar
estéril, ele é exposto a radiação, o que não se consegue com o Aedes
aegypti. “Por isso, recorremos à técnica transgênica”, diz a coordenadora do
projeto, Margareth Capurro, bióloga da Universidade de São Paulo.
Desenvolvido
na Universidade de Oxford, o mosquito transgênico carrega material genético da
drosófila. Em laboratório, são alimentados com ração de peixe e, para fêmeas
adultas, sangue. Na fase de ovos, todos recebem tetraciclina, o que permite
completar o ciclo de vida prematuramente.
As
fêmeas, as únicas que picam os humanos e transmitem o vírus da dengue, ficam em
laboratório para novos cruzamentos. Para que não haja risco de serem liberadas,
são adotadas duas medidas de segurança. A primeira é uma separação num túnel
escorregador em forma de funil. Como as fêmeas são maiores, não ultrapassam
certa faixa da descida. Há outro processo de separação, desenvolvido pela
Oxitec, empresa incubadora da Universidade de Oxford. "Depois, é feito um
controle de qualidade com lupas e microscópio", explica Andrew McKeney,
técnico da Oxitec que está no Brasil para acompanhar a pesquisa.
Cinco
bairros - Liberado pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança em
dezembro, o trabalho em campo teve início em fevereiro. Na primeira etapa,
foram feitos lançamentos menores, para avaliar o comportamento do mosquito de
laboratório no meio ambiente. Foram checadas a distância que o mosquito era
capaz de percorrer e sua capacidade de sobrevivência.
A
experiência ocorrerá por 18 meses em cinco bairros de Juazeiro. A escolha do
local, diz Margareth, foi facilitada pela proximidade com a Biofábrica
Moscamed, entidade ligada ao Ministério da Agricultura que já produzia moscas
estéreis.
Destaques >>
Leia mais notícias em andravirtual
Curta nossa página no Facebook
Siga no Instagram