Pais ou padrastos são autores de quase 70% dos abusos a crianças

Uma
pesquisa realizada no HC (Hospital das Clínicas) da USP (Universidade de São
Paulo) revela que o combate e a prevenção de abusos sexuais a crianças precisam
ser feitos, principalmente, dentro de casa. Segundo o estudo, quatro de cada
dez crianças vítimas de abuso sexual foram agredidas pelo próprio pai e
três, pelo padrasto.
Os resultados foram obtidos após a análise de 205 casos de abusos a crianças
ocorridos de 2005 a 2009. As vítimas dessas agressões receberam acompanhamento
psicológico no HC e tiveram seu perfil analisado pelo Nufor (Programa de
Psiquiatria e Psicologia Forense) do hospital.
Segundo Antonio de Pádua Serafim, psicólogo e coordenador da pesquisa sobre as
agressões, em 88% dos casos de abuso infantil, o agressor faz parte do círculo
de convivência da criança.
O pai (38% dos casos) é o agressor mais comum, seguido do padrasto (29%). O tio
(15%) é o terceiro agressor mais comum, antes de algum primo (6%). Os vizinhos
são 9% dos agressores e os desconhecidos são a minoria, representando 3% dos
casos.
“É gritante o fato de o pai ser o maior agressor. Ele é justamente quem deveria
proteger”, afirmou Serafim, sobre os dados da pesquisa, que ainda serão
publicados na Revista de Psiquiatria Clínica da Faculdade de Medicina da USP.
“As crianças são vítimas dentro de casa.”
A pesquisa coordenada pelo psicólogo mostra também que 63,4% das vítimas de
abuso são meninas. Na maioria dos casos, a criança abusada, independentemente
do sexo, tem menos de 10 anos de idade.
Para Serafim, até pela pouca idade das vítimas, o monitoramento das mães é
fundamental para prevenção dos abusos. Muitas crianças agredidas não denunciam
os agressores.
Elas, porém, dão sinais de abusos em seu comportamento, segundo Serafim. Por
isso, as mães devem estar atentas às mudanças de humor das crianças. “Uma
mudança brusca é a maior sinalização de abuso”, disse.