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Um
documentário da BBC ouviu cientistas, pais e um profissional ligado à indústria
de brinquedos na tentativa de estabelecer por que meninas preferem a cor rosa. Quando
se trata de explicar essa preferência, especialistas não conseguem chegar a um
consenso: estudos para determinar se o gosto por certas cores seria cultural ou
genético apresentaram resultados contraditórios. Porém,
pais e profissionais estão preocupados com a forma como a indústria vem usando
a cor rosa para manipular o comportamento das crianças, influenciando suas
escolhas por alguns tipos de brinquedos em detrimento de outros. ESTUDOS Em
1893, um estudo com 450 mil pessoas feito em Chicago, nos Estados Unidos,
concluiu que a maioria das pessoas, homens e mulheres, gosta da cor azul, e que
mulheres gostam também do vermelho. Mais
recentemente, investigações feitas por Anya Hurlbert, uma neurocientista da
Newcastle University, em Newcastle, no nordeste da Inglaterra, pareceram
confirmar o estudo feito em Chicago. "Existe
uma tendência universal de preferência pelo azul e de rejeição de verdes
amarelados", disse Hurlbert. "Homens e mulheres reagiram
positivamente a componentes azul-amarelos. Mulheres também reagiram
positivamente aos vermelhos-verdes". Partindo
desses resultados, a neurocientista vai um pouco mais além e acredita ter
encontrado a explicação para a preferência feminina pelo rosa: "Quando
você combina essas duas tendências, obtém o rosa", ela disse. E
ao tentar explicar a origem dessa afinidade, Hurlbert sugere que talvez essa
preferência tenha raízes na pré-história, quando habitávamos cavernas. "As
mulheres saíam para procurar frutas, por isso desenvolveram uma maior
sensibilidade para tons avermelhados". Outros
especialistas, no entanto, discordam da teoria de Hulbert e a qualificam de
simplória. Steve
Palmer, psicólogo da Stanford University, na Califórnia, Estados Unidos, fez
vários estudos sobre o assunto e concluiu que as cores de que gostamos dependem
das coisas de que gostamos. "A
base para nossas preferências são as interações emocionais com objetos à nossa
volta", disse Palmer. As
pesquisas de Palmer parecem confirmar resultados de estudos feitos pela
psicóloga Melissa Hines, da Universidade de Cambridge, na Grã-Bretanha. CÍRCULO
VICIOSO Hines
e sua equipe estão tentando determinar a origem da preferência das meninas pelo
rosa. O
trabalho ainda está em andamento, mas resultados preliminares sugerem que a
preferência não seria resultado da influência dos pais e, sim, de indústrias
que vendem produtos para crianças. Hines
descreveu o processo: "Meninas
têm afinidade em relação a certos brinquedos", disse. "Elas preferem
bonecas, por exemplo, enquanto meninos preferem carros, caminhões e
armas". "Os
brinquedos com que meninos e meninas têm afinidade são oferecidos em cores diferentes". "Portanto,
como elas gostam de brincar com aqueles brinquedos, começam a gostar daquelas
cores". Hines
explica também que, entre os três e seis anos de idade, as crianças não têm
certeza de que sua identidade sexual é permanente. "Nessa
idade, elas acham que vão mudar de sexo se brincarem com os brinquedos errados,
então, são bastante rígidas em relação ao tipo de brinquedo e à cor". Ela
admite que os pais exercem algum papel nesse processo, já que são eles que
compram os brinquedos. "Os
pais compram os brinquedos, mas nós achamos que são os colegas quem exerce
maior pressão. A influência dos colegas nessa idade é muito grande, maior do
que a dos pais". Segundo
Hines, os pais tendem a querer o que os filhos querem: se a filha quer um
brinquedo rosa, há grandes chances de que seus pais comprem o brinquedo daquela
cor. "Isto
se torna um círculo vicioso", disse Hines. "A criança quer uma coisa
rosa, os pais compram a coisa rosa, a criança aprende a gostar da coisa
rosa". MARKETING Registros
históricos mostram que, no início do século 20, rosa era cor para meninos. Segundo
o consultor da indústria de brinquedos Richard Gottlieb, a cor passou a ser
considerada "feminina" nos anos 50. Ele
vê com preocupação a forma como a indústria vem usando o rosa para direcionar
as meninas a certos tipos de brinquedos. O
consultor fez um estudo com 1.500 mães e suas filhas. Ele perguntou a elas com
que tipo de brinquedos brincavam quando crianças. "Percebemos
que houve uma queda no número de meninas brincando com brinquedos de montar,
carros, caminhões e brinquedos científicos", disse Gottlieb. "São
brinquedos que, na verdade, deveriam ser considerados neutros". Ou
seja, as meninas estão sendo incentivadas a ficar longe dos brinquedos neutros
- que ajudam a criança a desenvolver a inteligência analítica e espacial - e a
cor rosa é usada para sinalizar que brinquedos elas devem escolher. E
ao que parece, o uso do rosa como instrumento de marketing já não se restringe
ao público infantil. "Há
exemplos hoje de produtos tipicamente associados a adultos, que não são
específicos de um sexo em particular, mas que estão sendo oferecidos na cor
rosa", disse à BBC a especialista em varejo Claire Rayner. "Você
pode comprar geladeiras, forno de micro-ondas, liquidificadores, carros e até
telefones celulares na cor rosa". "Me
parece que cores se tornaram parte integral da estratégia de venda dos
comerciantes". A
feminilidade está sendo vendida às meninas - e também às mulheres - em
embalagens cor-de-rosa. Mas a cor em si não parece ser o problema. O
que preocupa psicólogos, pais e outros profissionais é o conceito de
feminilidade que vem embutido no pacote.
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