Foto: Arquivo Pessoal
Maria
José dos Reis Rocha, de 59 anos, era uma avó orgulhosa de duas alunas da 7ª
Série da Escola Municipal Tasso da Silveira, no bairro de Realengo, Zona Oeste
do Rio de Janeiro. Agora, é uma avó desolada. As suas duas netas, Bianca e
Brenda, gêmeas de 13 anos, foram baleadas pelo atirador que entrou no colégio
na manhã desta quinta-feira. Brenda passa por cirurgia, Bianca não resistiu.
Ela teria morrido tentando proteger a amiga L., que se fingiu de morta para
garantir a vida.
A
avó de Bianca soube por L. o que aconteceu na sala de aula. Contou que Bianca
se colocou à sua frente e acabou sendo baleada. Os pais de L. a levaram para um
hospital, de acordo com vizinhos que estavam no local. O iG foi até a casa da
menina, também de 13 anos, mas não encontrou ninguém. Segundo vizinhos, L. está
em estado de choque. Uma das vizinhas, Alessandra Monique Souza Guimarães,
disse ter tentado abraçar a menina, quando ela se encolheu tremendo. Afirmou
que L. contou que o atirador foi conferir se tinha matado todas as meninas e
por isso ela, e outras, se fizeram de mortas.
Maria pouco entendeu
quando a mãe de Brenda e Bianca, Renata, entrou em casa, pegou documentos e
saiu. Paraplégica, ela se arriscou em um mototáxi para chegar ao Instituto
Nacional de Traumatologia e Ortopedia (Into), onde Brenda, atingida no braço,
seria submetida a uma cirurgia. “Ela ficou tão desesperada que pegou o
mototáxi. A mãe delas está em estado de choque. Na hora que chegou em casa,
pegou os documentos e saiu. Não disse nada. Graças a Deus eu tenho bons
vizinhos que tomaram todo o cuidado para me dar a notícia, porque tenho duas
pontes de safena. A única informação sobre a Brenda é que estaria reagindo bem
à cirurgia”, contou.
A senhora, emocionada,
lembrou que as duas sonhavam como seria uma festa de 15 anos para gêmeas. E
disse que Bianca morreu para salvar uma amiga da escola. L. teria fingido a
própria morte para escapar da fúria do atirador, que acabara de atingir sua
amiga na cabeça.
“A Bianca chegou a ser levada para o
hospital, mas pela informação que tivemos, ela morreu na hora. Era linda,
gostava muito de ir à escola, tinha o cabelo comprido, cuidava com carinho,
ontem mesmo foi a uma festinha. As duas eram bem diferentes fisicamente. Não
sei por qual razão ele atirou em mais meninas do que meninos. A Bianca morreu
protegendo uma coleguinha, a L., que mora aqui perto. Se colocou à frente dela
e por isso foi atingida. A L. se fez de morta e por isso sobreviveu. Ficou
coberta com o sangue da Bianca. A minha neta deu a vida pela amiguinha”, disse
Maria, antes de falar sobre o assassino: “Ele só pode estar louco e não tem fé
em Deus. As crianças é que pagam? Tiraram um pedaço de mim”.
Revoltada, Maria pediu Justiça. O atirador que matou diversas crianças e
feriu outras na escola em Realengo morreu no confronto com um policial que o
interceptou na escada do colégio, quando se dirigia a outro andar,
possivelmente para fazer novas vítimas. “Agora eu quero Justiça, coisa que esse
país não tem. É uma pouca vergonha como tudo aconteceu. O que houve com as
minhas netas vai acontecer com o filho dos outros”.