Quando
o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegar ao fórum da gigante de
tecnologia Microsoft nesta terça-feira (5), em Washington, nos Estados Unidos,
já terá recebido com duas palestras um pouco menos que em três anos no Palácio
do Planalto. Em Brasília, recebia R$ 11,4 mil mensais -- hoje, a presidente
Dilma Rousseff recebe R$ 26.723,13, o mesmo valor que deputados e senadores.
Agora, Lula ganha entre R$ 150 mil e R$ 200 mil por cada encontro para inspirar
empreendedores e repetir comentários que distribuiu em oito anos.
A
equipe de Lula não informa quanto ele recebe por palestra, mas nos bastidores
ex-assessores dele já admitiram que o ex-líder sindicalista não deixa o país
para falar por menos de R$ 200 mil. Essa quantia também teria sido cobrada de
outra empresa de tecnologia, a LG, que teve a primazia em ouvi-lo após a saída
do Planalto. Levando em conta o salário que recebia no governo, sem contar 13º,
ele levaria 35 meses para juntar R$ 399 mil.
O
ex-presidente irá à capital americana acompanhado do governador do Rio de
Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), seu aliado durante o governo. No primeiro dia na
capital dos EUA, Cabral participará de um painel do "Forum de Líderes do
Setor Público da América Latina e Caribe - Inspirando a Próxima Geração de
Líderes Governamentais", para discutir iniciativas fluminenses na área de
mídias sociais e programas voltados a comunidades carentes.
Lula
só deve falar na quarta-feira (6), quando se converterá em uma das principais
estrelas do evento, relatando sua experiência no governo brasileiro, talvez sem
citar a defesa do software livre em outros tempos – chegou a pedir estudos para
substituir o software Windows, carro-chefe da Microsoft, pelo gratuito Linux em
computadores de todos os ministérios. O plano acabou engavetado.
No
início de março, em sua primeira palestra paga depois de deixar a Presidência
da República, Lula discursou para cerca de mil funcionários e convidados da LG.
Disse ainda que seus programas sociais ajudaram a empresa. Em 40 minutos, fez
piadas, falou sobre a vida nova e criou ânimo para abrir a LILS Palestras,
Eventos e Publicações – em sociedade com seu amigo e ex-presidente do Sebrae,
Paulo Okamotto.
No
repertório do ex-presidente em Washington também devem aparecer as críticas aos
céticos durante a crise econômica de 2008. “O Brasil estava pronto para
consumir. Houve quem não acreditasse. Fui muito achincalhado por ter dito que
[a crise] ia ser uma marolinha. E não é que foi”?, disse ele durante a palestra
paga pela empresa – em uma reprise de críticas que fez a oposicionistas e
economistas nos últimos anos.
Ativos
do ex-presidente
Durante
seu mandato, Lula tinha duas residências oficiais para usar – o Palácio da
Alvorada e a Granja do Torto -, férias garantidas em instalações do Exército,
transporte aéreo garantido para qualquer lugar do mundo, despesas suas e de
familiares cobertas pelo erário e praticamente nenhum gasto. Ainda assim, sua
sucessora, Dilma Rousseff, já recebe mais do que ele graças ao Congresso: são
quase R$ 27 mil mensais.
Ainda assim, para receber seu salário como servidor público número 1 entre 2003 e 2010, Lula tinha uma agenda extensa, nacional e internacional. Muitas vezes começava o dia às 5h para terminar depois da meia-noite. Também durante aquele período recebia indenização de aproximadamente R$ 6 mil por prejuízos que sofreu por ter combatido o Regime Militar (1964-1985).