Se o torcedor brasileiro procura um protagonista para se inspirar a torcer
pela seleção, Neymar é o candidato número 1. Depois de brilhar em janeiro pelo
time sub 20, no sul-americano que classificou o Brasil para as Olimpíadas, o
atacante foi o destaque na vitória de 2 a 0 sobre a Escócia, neste domingo, no
Emirates Stadium, em Londres. Foi a oitava vitória brasileira contra o rival,
em dez partidas (dois empates). Neymar fez os dois gols e ainda sofreu o
pênalti do segundo em sua primeira partida na Europa.
O curioso é que o santista foi perseguido pelos torcedores escoceses, maioria
no campo do Arsenal. Quando o brasileiro tocava na bola era vaiado. Motivo: aos
20 minutos do primeiro tempo ele se chocou com um grandão escocês e desabou no
chão. Pediu atendimento, mas logo se levantou para disputar uma bola. Os
torcedores avaliaram como encenação e passaram a vaiar.
Mesmo com apenas 19 anos, Neymar não estava nem aí. Foi para cima dos
zagueirões, driblou, levou mais pancada e aos 41 minutos do primeiro aproveitou
passe de André Santos e chutou cruzado, no cantinho, fazendo um gol bonito. No
segundo tempo outro drible, pênalti, e a cobrança, combinando com Elano, que
pegou a bola para bater.
O resultado dá tranqüilidade para Mano Menezes depois de duas derrotas
seguidas (Argentina e França, ambos 1 a 0). A próxima convocação, em maio, já
será a definitiva para a Copa América de julho na Argentina e para os amistosos
contra Holanda, 4 de junho em Goiânia, e Romênia (7 de junho, em São Paulo, na
despedida de Ronaldo).
O jogo
Até o gol, o Brasil não jogava mal, mas parava na famosa retranca escocesa.
Impressionava a capacidade do rival brasileiro em ficar muitas vezes com os 11
jogadores em seu campo defesa. Cena improvável de se ver em campos brasileiros:
os escoceses comemoravam escanteios como gol.
Jogando com Damião mais fixo à frente, Neymar na esquerda, Elano na direita e
Jadson centralizado, o Brasil criava oportunidades, finalizava, mas parava no
goleiro ou na trave.
Estreante da tarde (em Londres), Damião mostrava desenvoltura para um atleta
que até outro dia atuava na várzea. Bom de cabeça teve pelo menos duas chances,
mas também fez o papel de pivô, tabelando com Jadson ou Elano. O camisa 10
(Jadson), o sétimo a ser testado na função de armador, não brilhou, o que faz
Mano esperar com mais ansiedade pela volta de Ganso.
No segundo tempo, os escoceses (impressionante) arriscaram alguns ataques
terrestres, todos sem sucesso. O espaço que o Brasil teve gerou chances cara a
cara com o goleiro, chute na trave de Neymar e chances em cobranças de falta. O
garoto Lucas substituiu Jadson e mostrou personalidade, com boas arrancadas.
Mais um que deve ter lugar cativo na equipe principal agora.
Estrela
Os escoceses não estavam familiarizados com Neymar. Um torcedor na tribuna, irritado
com os dribles do garoto, gritava “segurem o menino”. O rosto denuncia que o
santista é uma revelação e sua exibição em Londres deve fazer com que Mano
dificilmente o tire da equipe.
Titular contra EUA, no primeiro jogo de Mano, Neymar não foi para a segunda
convocação porque estava afastado no Santos, brigado com o técnico Dorival Jr.
Contra a Argentina ficou no banco, entrando no segundo tempo, e para a França
estava defendendo a sub 20. Nunca havia jogado como profissional na Europa. Com
vários empresários no estádio, vai ficar difícil o Santos segurá-lo.