Montadoras modificam o cotidiano do interior de SP

Algo improvável há pouco mais de um
ano, encontrar um coreano em Piracicaba (160 km de São Paulo) é mais fácil do
que achar um ponto de venda das pamonhas da terra do "erre" puxado.
A montadora Hyundai só começa a operar
em solo piracicabano em 2012, mas a chegada dos executivos e engenheiros -com
familiares- tem transformado o cotidiano e parte dos setores de comércio e
serviços da cidade.
Sorocaba (99 km de SP) e Jacareí (84 km
de SP) também começam a sentir os impactos da instalação da japonesa Toyota e
da chinesa Chery em seus territórios.
No total, as três asiáticas vão
investir cerca de US$ 1,9 bilhão no interior paulista.
Em Piracicaba, dois restaurantes
coreanos foram abertos em 2010. Um deles, por empresários que atendiam à
Hyundai da Rússia; o outro, pelos empreendedores ligados à unidade da empresa
nos Estados Unidos.
Um terceiro estabelecimento está
prestes a ser inaugurado por um grupo de investidores da comunidade coreana de
São Paulo, segundo Waldemar Peres Júnior, relações governamentais da Hyundai no
país.
Segundo ele, há cerca de 150 coreanos
vivendo atualmente em Piracicaba, mas o número deve crescer.
O hotel New Life, que adaptou serviços
por conta dos estrangeiros, hospeda hoje 50 funcionários da montadora e recebeu
a informação da chegada de pelo menos 30 neste mês, disse o gerente Mauro
Teixeira Junior.
Enquanto isso, uma família de coreanos
que vive em São Paulo já prepara o terreno para se instalar em Piracicaba com
um hotel destinado ao estilo de vida dos empresários da montadora.
EDUCAÇÃO
O movimento atinge ainda o setor
educacional. Dois colégios da cidade, o Piracicabano e o Luiz de Queiroz, têm
filhos de executivos e engenheiros da montadora entre os alunos. As escolas
tentam absorver a novidade.
"Estou estudando coreano para me
comunicar com os pais dos alunos", afirma a coordenadora de ensino do
Piracicabano, Joselane da Silva, 47. O curso oferecido tem três alunos
coreanos.
Já o Luiz de Queiroz contratou a
coreana Andreia (nome adotado no Brasil) Sung Mi Kang, 48, para dar apoio
pedagógico a seis estudantes e suas famílias. Há décadas no Brasil, ela ensina
português a seus conterrâneos.
EUFORIA
"Eles sentem que Piracicaba está
muito eufórica com a chegada da empresa. São um pouco fechados, mas percebem a
expectativa de empregos e desenvolvimento das pessoas", disse o arquiteto
Evandro Kim, 30, descendente de coreanos que trabalha na obra da Hyundai.
Expectativa por empregos há também em
Sorocaba. A já consolidada comunidade japonesa do município, com 2.000 membros,
espera ver o retorno dos seus decasséguis devido à construção da fábrica da Toyota
na cidade.
"Existe essa esperança, sim.
Diversas famílias nos procuraram para saber como proceder [para repatriar os
descendentes]", diz o presidente da Ucens (União Cultural e Esportiva
Nipo-brasileira de Sorocaba), Carlos Munetachi Hayashida, 57.
A entidade tem sido a ponte com uma
consultoria que recruta pessoal para trabalhar na implantação da fábrica.
Hayashida diz que, com a notícia de que a montadora vai para a cidade, os
cursos de japonês na Ucens tiveram aumento de 50%.
Em Jacareí, após a confirmação de que a Chery se instalará na cidade, a prefeitura abriu, em 2010, 80 vagas para cursos gratuitos de mandarim. Foi pouco. "Estamos estudando ampliar as turmas neste ano", disse o prefeito, Hamilton Ribeiro (PT).