Depois de 17 anos, a Justiça condenou 55
ex-vereadores, incluindo um suplente, da Câmara Municipal de São Paulo a
devolver R$ 5,3 milhões aos cofres públicos. O valor se refere ao pagamento de
salário entre 1993 e 1994 acima do teto constitucional - a lei limita a
remuneração de parlamentares municipais a, no máximo, 75% dos vencimentos pagos
aos deputados estaduais. A ação já percorreu todas as instâncias e não cabe
mais recurso.
Fazem parte da lista de condenados o prefeito
Gilberto Kassab (DEM), cinco atuais vereadores, dois conselheiros do Tribunal
de Contas do Município (TCM) e os ex-vereadores Vicente Viscome e Hanna Garib,
acusados de envolvimento na Máfia dos Fiscais, escândalo de cobrança de propina
revelado em 1998. Cada réu terá de desembolsar, em média, R$ 95 mil, mas cabe
contestação sobre o valor exato. Eles terão ainda de quitar R$ 533 mil em
honorários advocatícios.
A ação popular é de 1994. Os autores, três
moradores da Lapa, na zona oeste, questionavam o cálculo dos vereadores para
aumentar seus salários. Com base em uma interpretação equivocada da Resolução
n.º 05/92 - a mesma regra usada neste mês pela Câmara para replicar o reajuste,
no fim de 2010, de 61% para os deputados -, os vereadores daquela legislatura
(1993-1996) ficaram isentos de Imposto de Renda. O Ministério Público Estadual
abriu inquérito para apurar irregularidades do último reajuste de salário dos
vereadores.
"O indevido recebimento da remuneração traduziu-se
em conduta ilegal e imoral, de sorte que a presença de ilegalidade e lesividade
aos cofres públicos é patente", escreveu a juíza Gabriella Pavlópoulos
Sacchi, da 11.ª Vara da Fazenda Pública.
Os ex-vereadores recorreram da decisão. O único
que conseguiu escapar da condenação foi Francisco Whitaker, que comprovou ter
devolvido os valores. A sentença foi mantida pelo Tribunal de Justiça de São
Paulo para os demais réus. As apelações feitas aos tribunais superiores não
tiveram êxito. Um dos últimos acórdãos (decisão final) foi proferido em
novembro.
Aos 74 anos, Raymundo Medeiros, um dos autores
da ação, comemorou o desfecho. "Fica uma lição cívica para todos."
Para a assessoria de Kassab, a ação foi movida
contra a Câmara, não contra ele, e, por isso, não comentaria. "Qualquer
decisão será respeitada." Os representantes dos outros vereadores não
foram encontrados.
A Corregedoria da Câmara de São Paulo abriu ontem sindicância para investigar o vereador Antonio Goulart (PMDB), acusado de contratar a gráfica de sua mulher com verba de gabinete.