As chuvas que atingiram a região serrana do Rio na última semana estão
entre as mais intensas já registradas na localidade e as de maior índice
pluviométrico da história de Nova Friburgo, a cidade mais afetada. Em
Petrópolis e Teresópolis, no entanto, o índice ficou abaixo dos recordes
anteriores. A informações são da chefe da Seção de Previsão do Tempo do
Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) no Rio de Janeiro, Marlene Leal.
Segundo a meteorologista, em razão da intensidade pluviométrica das chuvas
e da abrangência das áreas onde elas ocorreram a “catástrofe era inevitável”.
“Na proporção e na intensidade com que as chuvas caíram não havia como evitar
que uma tragédia acontecesse. Eu confesso que a proporção atingida – em uma
área tão extensa, região montanhosa, de vale, aliada àquelas cabeças d'água que
se formaram descendo em velocidade montanha abaixo em uma área imensa – me
surpreendeu.”
Somente em Nova Friburgo a concentração pluviométrica chegou a 182,8
milímetros em um período de apenas 24 horas. Ela explicou à Agência Brasil que
ocorreram três momentos de chuva forte em Friburgo: entre as 4h e as 5h choveu
30 milímetros, em seguida, houve outra pancada de chuva que concentrou 60
milímetros e, na sequência, mais 18 milímetros.
“E depois a chuva continuou até chegar, em um período de 24 horas, aos
182,6 milímetros de concentração pluviométrica, um recorde – o maior volume
pluviométrico da história de Friburgo desde que os registros são feitos. É
preciso lembrar, ainda, que já havia ocorrido uma chuva na véspera de mais de
90 milímetros, o que já havia deixado o solo encharcado”, explicou.
De acordo com a meteorologista, o recorde anterior em Nova Friburgo havia
sido de 113 milímetros em um período de 24 horas, registrado em 24 de janeiro
de 1964. “Acho que a extensão abrangida pela chuva é que foi um dos principais
problemas. Por isso, a proporção da catástrofe foi imensa. Dificilmente se
poderia evitar o que aconteceu diante da intensidade da chuva. A gente passou o
aviso, mas não esperávamos que fosse nas proporções que atingiu.”
A formação do relevo da região também contribuiu para a catástrofe. “O
volume pluviométrico altíssimo levou a formação daquelas cabeças d’água.
Aliadas à topografia da região e a ocupação desordenada em algumas regiões, e
que não é coisa de agora, não haveria nenhum aviso meteorológico ou alerta da
Defesa Civil que resolvesse o problema.”
O Inmet, segundo ela, não tem autoridade para divulgar alertas
meteorológicos – um papel da Defesa Civil, de acordo com a especialista. Ao Inmet
cabe divulgar Aviso Meteorológico Especial com a previsão e as possibilidades
de chuva de maior ou menor intensidade.
Ela garantiu que na tarde do dia 11 o Aviso Meteorológico continha dois
informes: um com a possibilidade de chuvas moderadas a forte, atingindo a
divisa de Minas Gerais com o Rio de Janeiro, a região serrana, o Vale do
Paraíba e a região do litoral sul da Costa Verde. O outro enfocava justamente a
possibilidade da ocorrência de um acumulado significativo de chuva. “O que para
nós significa um volume pluviométrico acima de 100 milímetros em um determinado
período de tempo relativamente curto.”
A meteorologista diz que é preciso lembrar que, no final do ano - quando
as pessoas estavam preocupadíssimas com o tempo para a noite do dia 31 – O
Inmet alertou a população sobre a preocupação com as chuvas dos primeiros dias
do ano. “E elas poderiam cair no litoral sul, na região dos lagos ou na serrana
como acabou acontecendo”, disse. “A gente já via claramente a proporção das
chuvas que cairiam nos dias que se seguiriam e eu alertei sobre esse risco”,
completou.