O fato de a educação brasileira, em geral, deixar muito a desejar já é amplamente conhecido. Resta saber o quanto e em que velocidade ela vem sendo aprimorada. Relatório do movimento independente Todos pela Educação divulgado nesta quarta-feira mostra aceleração nos avanços obtidos pelo setor.
Contudo, alguns resultados desapontam, ficando abaixo de metas estabelecidas e revelando falhas graves no ensino do país. O mais gritante exemplo: só 11% dos estudantes que concluem o ensino médio de fato dominam os conhecimentos que deveriam possuir em uma disciplina fundamental como matemática.
O relatório analisa o desempenho
dos estudantes do quinto e nono ano do ensino fundamental e do terceiro ano do
ensino médio a partir dos resultados deles no Sistema de Avaliação da Educação
Básica (Saeb) 2009, elaborado pelo Ministério da Educação (MEC). Esses dados
são cruzados com metas estabelecidas pelo Todos pela Educação, que prevê que em
2022, ano do bicentenário da Independência, ao menos 70% dos estudantes
brasileiros dominarão conteúdos adequados ao seu estágio escolar.
Entre
os alunos do quinto ano, constatou-se uma aceleração no aprendizado em relação
às medições anteriores. Em 2009, 34,2% deles aprenderam o que deveriam em
língua portuguesa e 32,6%, em matemática. Assim mesmo, o resultado na primeira
disciplina ficou abaixo da meta para o ano, que era de 36,6%.
Ao
fim do nono ano, o cenário foi inverso: em língua portuguesa, 26,3% dos alunos
aprenderam o que deveriam e, em matemática, só 14,8%. Aqui, o desempenho em
português superou a meta, de 24,7%, ao contrário do ocorrido com matemática,
17,9%. Finalmente, no ensino médio, 28,9% dos estudantes dominam os
conhecimentos devidos - superando a meta de 26,3%. Em matemática, o pior
resultado: 11%, ante a meta de 14,3%.
As
informações corroboram a tese de que a educação encontra um grande obstáculo no
ensino médio. Entre os níveis da educação básica (fundamental I e II e médio),
este último foi o que menos evolui nos últimos anos, aponta o Todos Pela
Educação.
"Constatamos
avanços significativos, mas é preciso acelerar. Se continuarmos no ritmo em que
nos encontramos, nossa meta só será atingida em 2050, e não em 2022 como
estabelecemos", diz Priscila Cruz, diretora-executiva do movimento. O
sociólogo Simon Schwartzman complementa: "Vemos que os resultados de
metemática são os mais perversos e são justamente eles que nos mostram a
qualidade da escola que temos. Matemática é uma disciplina que a escola ensina
ou não ensina, ao contrário do português, que o aluno assimila não só na
escola, mas também no convívio social".
"É
preciso olhar para o presente e enxergar que o futuro destas crianças está
definitivamente comprometido", afirma Priscila. Para Schwartzman, a
reversão deste quadro passa pela transformação da escola: "Os jovens
abandonam os estudos porque se sentem desmotivados. Temos que pensar se é esta
escola que queremos, um lugar que não ensina, que não faz o aluno pensar e
raciocinar".
O relatório do movimento Todos Pela Educação foi elaborado com base nos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Ministério da Educação (MEC).