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Uma
sucessão de secas como a de 2010 seria capaz de transformar a porção sudeste da
Amazônia em savana. A conclusão é de uma dupla de pesquisadores do Brasil e da
Colômbia, que calculou pela primeira vez qual é a redução na quantidade de
chuvas necessária para desestabilizar a floresta.
Como tudo o mais que envolve efeitos do aquecimento global sobre os ecossistemas, a conta não é simples e envolve várias interações. Mas Luis Fernando Salazar, da Universidade Industrial de Santander (na Colômbia), e Carlos Nobre, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), estimam que reduções de precipitação de 35% no sudeste da Amazônia e de 40% no nordeste bastariam para ampliar a estação seca (o "verão" amazônico) para quatro meses, transformando a vegetação em savana.um cenário futuro de aquecimento da Terra, no qual as temperaturas médias amazônicas subissem 4ºC, tal redução de chuvas é perfeitamente plausível.
Basta lembrar que as secas prolongadas de 2005 e deste
ano viram reduções tão grandes ou maiores do que essas. "É como se no
futuro o que aconteceu neste ano de 2010 passe a ser o padrão", disse
Nobre.
Em
um estudo publicado no periódico científico "Geophysical Research
Letters", a dupla de pesquisadores usa um modelo computacional de clima e
vegetação e analisa a resposta da floresta a diferentes níveis de temperatura e
precipitação. Mas, claro, num mundo aquecido não são apenas temperatura e chuva
que variam: um dado que estudos do tipo ainda não haviam computado, é o efeito
do CO2 a mais sobre a floresta.
O
gás carbônico, como qualquer criança sabe, é fundamental para a fotossíntese.
Ao mesmo tempo em que ajudam a esquentar o planeta, as emissões humanas do gás
fertilizam as plantas.
O
problema, conta Nobre, é que ninguém sabe qual é o efeito de fertilização do
gás sobre a floresta amazônica."O ponto de não-retorno depende do efeito
de fertilização", diz o pesquisador. "E os dados não nos permitem
dizer que seja zero."
Ele
e Salazar, então, montaram três cenários de resposta da floresta: um com zero
fertilização, outro no qual o efeito é 100% (também improvável) e um
intermediário, com fertilização de 25%.
No
cenário intermediário, o aumento de temperatura de 4ºC e uma redução de 35% nas
chuvas transformariam todo o sudeste amazônico numa savana empobrecida.
O
efeito é máximo no sudeste (sul do Pará, Tocantins e Mato Grosso) e mínimo no
noroeste (Amazonas). "Lá chove quatro metros por ano, se cair para dois
metros ainda dá para sustentar uma floresta", diz Carlos Nobre.
"Mesmo que a temperatura suba 7ºC, o efeito do CO2 compensaria esse aumento", afirma o cientista.
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