Kaká no treino desta sexta-feira, observado por Luís Fabiano. Foto: CBF
Kaká se esforça. Adota o discurso da era Dunga e coloca o título do Mundial à frente de qualquer reconhecimento individual. É enfático em dizer que julga a preparação de 2010 mais apropriada que a do último Mundial, tão badalada. Não se diz o líder, mas um dos líderes do time. Aponta para a importância de atuar em uma seleção forte quando é questionado sobre brilhar em campo. Mas não adianta. Estrela máxima do Brasil e uma das maiores do Mundial, o meia-atacante rompeu em sua entrevista, mesmo que involuntariamente, vários protocolos da cartilha do técnico na África do Sul.
Foi no dia da entrevista de Kaká, a primeira do jogador desde a convocação para a Copa, o primeiro atraso do cronograma anunciado pela CBF. Programada para as 7h15 (horário de Brasília), a entrevista começou somente meia hora depois, quando o jogador do Real Madrid, junto do coadjuvante Josué, era ciceroneado pelo diretor de comunicação da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), Rodrigo Paiva, diante das centenas de jornalistas que o aguardavam.
Procurou passar despercebido enquanto Josué respondia a algumas perguntas. Não conseguiu. Houve quem reparasse que, enquanto o volante falava, Kaká acompanhava o Twitter em seu celular. "Mas não tuitei, está só lendo", explicou quando foi questionado sobre o assunto. Ao deixar a bancada e deixar Kaká sozinho, Josué não hesitou em cumprimentar o colega com um aperto de mão e desejar "boa sorte". O astro do time ia mesmo precisar.
A razão disso veio logo em seguida. Kaká teria que responder sobre a Jabulani, a bola que a Adidas, uma de suas patrocinadoras, fez para a disputa da Copa do Mundo. O jogador contrariou os colegas, todos críticos do produto. Apelou à tese de novas tecnologias para explicar a dificuldade de adaptação dos boleiros. E frisa que, numa Copa, tudo toma proporção maior do que realmente tem. "Já vejo o Luis Fabiano beijando (a bola), o Júlio César abraçando... o fato é que a bola é essa e espero que com ela a gente seja campeão", afirmou.
Essa foi a largada para uma situação única até aqui na estada brasileira em Joanesburgo. Dunga não quer entrevistas individuais. Todos os jogadores sempre estão acompanhados pelos colegas durante o contato com os jornalistas. Chegou-se ao extremo de reunir os três goleiros — Júlio César, Doni e Gomes — na bancada junto com o preparador Wendell Ramalho e o tetracampeão Taffarel, hoje empresário de jogadores, mas, na seleção de Dunga, observador dos adversários.
Momentos depois foi a vez do "CQC", da TV Bandeirantes, provocar outra situação inusitada, que foi possível somente por ser Kaká o entrevistado da vez. No que dependesse do técnico, a equipe do programa que mescla jornalismo e humorismo nem sequer teria acesso às entrevistas da seleção. Mas Dunga não pode impedir o acesso de credenciados pela Fifa, documento que a reportagem do programa possui.
O repórter do programa chegou a jogar uma Jabulani para Kaká, que a agarrou e colocou sobre a bancada. Respondeu sobre apostas com Cristiano Ronaldo, português com quem atua no Real Madrid e outra estrela na África do Sul. "Combinamos apenas de trocar camisas", respondeu Kaká.
Por fim, uma repórter da TV mexicana tentou entregar camisas para Kaká autografar durante a entrevista. Dizia ela que eram para crianças com câncer, internadas num hospital de Joanesburgo. Num primeiro momento, Paiva a impediu. Pediu que esperasse. Mas, ao fim da coletiva, permitiu acesso a Kaká, que deu os autógrafos e posou para fotos, numa atitude natural de quem, goste Dunga ou não, é um verdadeiro astro.
Protagonismo de Kaká derruba cartilha de Dunga
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