Equidade é inovação: por que a Engenharia precisa de mais mulheres
A equidade de gênero na Engenharia ainda representa um desafio, mas os avanços já são visíveis e encorajadores.

O Dia Internacional das Mulheres na Engenharia, celebrado em 23 de junho, reforça a importância desse tema e destaca a coragem, a resiliência e o protagonismo que nos impulsionam rumo a uma realidade mais justa e inclusiva. Criada em 2014 pela Women’s Engineering Society (WES), no Reino Unido, a data tornou-se um marco mundial de reconhecimento às nossas trajetórias profissionais.
Essa é também uma oportunidade para celebrarmos conquistas, ampliar vozes e inspirar novas gerações de mulheres a seguirem carreira nas áreas tecnológicas. Essa transformação é fruto de um esforço coletivo, sustentado por políticas afirmativas e ações concretas. Os números mostram esse progresso: atualmente, nós, mulheres, representamos 20% dos profissionais registrados no Sistema Confea/Crea. Embora o percentual ainda pareça modesto, os sinais de evolução são evidentes. Segundo o minicenso do Confea, divulgado em maio deste ano, 36% das profissionais entraram no Sistema nos últimos cinco anos. Hoje, somos cerca de 236 mil mulheres com registro para atuar na Engenharia, Agronomia e Geociências em todo o Brasil.
Outro dado relevante é a diferença de faixa etária entre os profissionais. Enquanto a média de idade dos homens registrados é de 43 anos, a nossa é de 38. E entre aqueles com menos de 30 anos, já representamos um terço. Esse crescimento revela que estamos ocupando mais espaço e que as próximas gerações serão, sem dúvida, mais diversas.
A escolha pela Engenharia também reflete nossas aptidões. Cerca de 27% das mulheres entrevistadas apontaram o bom desempenho escolar como fator decisivo para seguir nessa carreira, o que reforça que nossa presença é fruto de mérito e capacidade técnica. Por isso, acredito firmemente na importância de incentivar, desde cedo, meninas a se interessarem pelas ciências exatas e pela tecnologia, criando ambientes educacionais mais inclusivos.
Outro aspecto marcante é a nossa relação com a inovação. O mesmo estudo mostra que 75% dos profissionais veem a tecnologia como aliada, e esse olhar positivo é ainda mais forte entre as mulheres. Isso demonstra nossa natural capacidade de liderar, inovar e oferecer soluções criativas que geram impactos positivos na sociedade.
É importante lembrar que a ampliação da participação feminina traz benefícios que vão muito além do setor. Diversidade significa desenvolvimento. Uma pesquisa da consultoria McKinsey & Company comprova que empresas com maior equilíbrio de gênero em cargos de liderança têm 21% mais chances de superar a média de desempenho financeiro.
Na prática, os resultados aparecem todos os dias. Somos protagonistas em projetos de infraestrutura, energias renováveis, mobilidade, segurança, fiscalização ambiental e planejamento urbano. Também estamos cada vez mais presentes na produção acadêmica e em pesquisas de ponta. Um exemplo inspirador é o da engenheira agrônoma Mariangela Hungria da Cunha, da Embrapa Soja, primeira brasileira a receber o Prêmio Mundial de Alimentação 2025, considerado o Nobel da Agricultura. Seu trabalho com fertilizantes biológicos gerou uma economia anual de US$ 25 bilhões e evitou a emissão de mais de 230 milhões de toneladas de CO?.
Dentro do Sistema Confea/Crea, o compromisso com a diversidade e inclusão se fortalece por meio de políticas públicas e institucionais. Foi nesse contexto que nasceu o Programa Mulher, que tem promovido ações efetivas e de longo alcance para reforçar essa pauta.
No Crea-SP, somos signatários da Agenda 2030 da ONU, o que torna nosso compromisso com a equidade de gênero ainda mais concreto. Só em 2024, impactamos mais de 11 mil profissionais com iniciativas como a trilha de formação de lideranças femininas, disponível na plataforma Crea-SP Capacita, além de ações em universidades, eventos e encontros regionais.
Esse trabalho nos levou a uma conquista importante: o selo bronze de Certificação em Boas Práticas no Combate à Violência Contra as Mulheres – Prática Recomendada (PR) 1019 –, concedido pela ABNT em parceria com o Instituto Nós Por Elas. O Crea-SP tornou-se o primeiro conselho profissional do país a receber essa certificação.
Ser a primeira mulher eleita para a presidência do Crea-SP, após 91 anos de história, também é uma prova de que estamos avançando. Quando iniciei minha trajetória na Engenharia, em 1988, éramos pouquíssimas mulheres nas salas de aula. Esta conquista é fruto do esforço coletivo de todas que persistiram, lutaram e acreditaram na transformação de um ambiente historicamente masculino.
Estamos certas de que ampliar a presença feminina em cargos de decisão não é apenas uma questão de representatividade — é uma necessidade estratégica. A diversidade traz soluções mais criativas, cidades mais inteligentes e um país mais justo para todos. Nosso compromisso é valorizar o protagonismo técnico das mulheres, combater desigualdades e criar condições para que todas as pessoas, independentemente de gênero, possam crescer e contribuir.
Convido todos os profissionais e lideranças que compartilham desses ideais a seguirem conosco nessa jornada. Estamos apenas no início de um novo capítulo: mais justo, mais plural e, com certeza, muito mais promissor.
Sobre o Confea: Instituído há 91 anos, o Conselho Federal de Engenharia e Agronomia é a instância máxima de fiscalização do exercício profissional nas áreas de Engenharia, Agronomia e Geociências. Seu principal objetivo é proteger a sociedade e promover o desenvolvimento sustentável do Brasil, assegurando os princípios éticos das profissões.