Governo quer menos testes de produtos com animais
Pesquisas

O
país poderá ter menos testes pré-clínicos ou de segurança com animais. Esse é o
objetivo de um termo de cooperação assinado na terça-feira (13) pela Anvisa
(Agência Nacional de Vigilância Sanitária). O termo foi firmado com a Fiocruz,
que será o "guarda-chuva" do futuro Centro Brasileiro de Validação de
Métodos Alternativos.
De
acordo com Maria Cecília Brito, uma das diretoras da Anvisa, o objetivo do
centro é desenvolver e validar as chamadas metodologias alternativas de
experimentação, que não usam animais para determinar a segurança ou eficiência
de um produto.
A
partir disso, a Anvisa passará a chancelar produtos que, hoje, só são aceitos
após comprovações que envolvem animais em laboratório.
Esse
é o caso, por exemplo, de xampus para crianças (cujos testes tentam identificar
se causam ardência nos olhos) e de cremes rejuvenescedores que agridem a pele.
De
acordo com Isabella Delgado, da Fiocruz, a ideia é ampliar os casos em que o
uso dos animais não é necessário. Mas, em situações como teste de potencial de
câncer ou riscos na reprodução humana, a substituição dos animais é improvável.
"Pensamos na redução e no refinamento, buscando diminuir dor e sofrimento
[dos animais]", diz Delgado.
O
médico Marcelo Morales, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro),
representante dos cientistas no Conselho de Ética Animal, concorda com Delgado.
Para
ele, a criação do centro é um caminho para o país desenvolver alternativas à
experimentação animal. "Mas em nenhum lugar do mundo não existe
experimentação animal", explica.
Morales
diz que cada metodologia de experimentação alternativa pode levar até dez anos
para ser desenvolvida. Isso é feito com base em pesquisas científicas.
Além
de desenvolver métodos próprios, o centro deve interligar outros no país nessa
área e também chancelar testes já feitos no exterior.
De acordo com Brito, da Anvisa, os primeiros resultados, com cosméticos, devem
sair em até um ano. Ela acredita ainda que o centro vai estimular que empresas
brasileiras optem pelos testes sem animais.
"Países
mais avançados nessa questão não aceitam testes pré-clínicos com animais.
Alguns produtos brasileiros não conseguem mercado fora e outros já lançaram mão
desses métodos para vender no exterior", afirma. Delgado, da Fiocruz, diz
acreditar que não será preciso pensar em proibição.
"Quando
você consegue uma metodologia substitutiva, dificilmente vai optar pelo modelo
animal." Consultado pela Folha, o presidente do grupo ativista
"Holocausto Animal", Fábio Paiva, mostrou-se animado com a criação do
centro. "Sou favorável a qualquer passo que possa reduzir o uso de animais
em laboratório. É uma luz no fim do túnel."