Governo não tem laboratório para fiscalizar veto a aditivos em cigarros

A
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) terá de recorrer a um plano B
para acompanhar o cumprimento da resolução que restringe o uso de aditivos em
cigarros, aprovada semana passada. Embora tenha sido prevista há mais de oito
anos, a construção do Laboratório Oficial para Análise e Controle de Produtos
Derivados do Tabaco, essencial para fiscalização, nunca saiu do papel.
A
obra estava programada para ser feita numa área cedida pela Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), na Ilha do Fundão. Foram previstos – e
liberados – R$ 9,6 milhões no plano plurianual de 2008 a 2011. Como o dinheiro
não foi usado, a empreitada voltou ao estágio inicial. O terreno não poderá
mais ser usado e a verba teve de ser devolvida para o Tesouro.
Apesar
de o projeto não ter saído do estágio inicial, já foram consumidos R$ 2,22
milhões com preparativos. Os recursos foram usados num convênio firmado em 2005
entre a Anvisa e o Programa das Nações Unidas para Desenvolvimento (PNUD) para
realização de um projeto executivo, um projeto conceitual, treinamento de
pessoal, passagens, diárias e sondagem de terreno, além da compra de duas
máquinas que simulam o ato de fumar.
"Não
abandonamos a ideia do laboratório oficial. Os projetos serão
aproveitados", disse o diretor da Anvisa, José Agenor Álvares. As máquinas
de fumar estão em um laboratório piloto que está sendo construído em parceria
com o Ministério de Ciência e Tecnologia para pesquisas relacionadas ao
cigarro.
Para
este laboratório piloto, de 2008, foram reservados outros R$ 4 milhões. De
acordo com a Anvisa, as obras começaram ano passado e a inauguração está
prevista para o segundo semestre.
"O
laboratório piloto poderia fazer uma parte das análises necessárias para
fiscalizar o cumprimento da resolução. Mas ele não tem condições de arcar com
toda a demanda", afirmou Agenor Álvares.
A
unidade piloto ficará encarregada de fazer pesquisas científicas relacionadas a
produtos derivados ao tabaco e treinamento do sistema nacional de vigilância.
Ações de rotina, como análise de produtos, serão tarefa do laboratório oficial.
Restrição. A
resolução aprovada semana passada restringe o uso de aditivos nos cigarros e
nos derivados do tabaco, como charutos e cigarrilhas. De uma lista de mais de
600 substâncias que atualmente a indústria pode usar durante o processo de
fabricação, somente oito serão mantidas. Entre elas, o açúcar. Fabricantes
poderão acrescentar a substância apenas para repor o que for perdido durante o
processo de secagem do fumo.
As
indústrias de cigarros terão 18 meses para mudar o processo de produção.
"Até lá, certamente já teremos condições de fazer a fiscalização das
regras", acredita Agenor Álvares.
Como
não há mais condições de construir a unidade na Ilha do Fundão, a ideia agora é
fazer um termo de cooperação com a Aeronáutica, para adaptar um laboratório na
Ilha do Governador. Duas reuniões para negociação foram feitas. "Serão
necessárias adaptações, mas o prazo é suficiente", diz. O acordo com o
comando da Aeronáutica, no entanto, ainda não está fechado.