Casal de lésbicas consegue a separação na Justiça

Depois
de o Supremo Tribunal Federal (STF) reconhecer a união estável homoafetiva,
casais de gays agora usam esse direito para conseguirem se separar legalmente.
Em Franca, interior de São Paulo, casal de lésbicas garantiu a separação dos
bens na Justiça depois de uma relação que durou 13 anos.
A
aposentada Teresinha Geraldo Lisboa, a Terê, de 51 anos, e a gráfica Márcia
Pompeu Sousa, de 47, viviam juntas desde 1998. Após uma longa relação, elas
decidiram se separar no fim do ano passado. “Chegamos a um consenso, era melhor
para nós. Mas queríamos deixar tudo certinho na Justiça”, conta Terê.
O
casal procurou o amigo e advogado Mansur Jorge Said Filho para que
providenciasse o processo. Como elas nunca haviam oficializado o casamento, o
advogado compôs uma ação de reconhecimento e dissolução de união, com partilha
de bens. “Eu me baseei em decisão do STF no sentido de considerar aplicação
constitucional do Código Civil, de não discriminar”, afirmou Mansur.
Decisões
como essas costumavam ser acompanhadas de polêmicas e repercussões, o que não
foi o caso. A Vara de Família de Franca homologou, semana passada, o acordo
proposto sem contestações. “O Ministério Público também foi a favor com o
reconhecimento e a partilha.” Em jogo, havia um carro e duas casas em Franca –
embora a divisão tenha sido acordada amigavelmente antes da ação. O carro ficou
com Márcia, uma das casas com Terê e a outra, ainda em reforma, será vendida e
o dinheiro, dividido.
A
aposentada Terê afirma que a ação pode servir de exemplo para casais irem atrás
de seus direitos. “Tomara que sirva para que outros gays saiam do armário e
sejam felizes.”
Moradora
há 8 anos de Franca, ela faz trabalhos sociais pela ONG Tudo Pelo Social. Em
2008, chegou a concorrer a uma cadeira na Câmara Municipal e perdeu. A culpa,
para ela, foi do preconceito. “Na campanha, dizia: ‘Não estou sozinha, mas com
minha esposa Márcia’. Isso deu uma grande repercussão e falavam que não votaram
em mim porque eu era gay.”
As
duas se conheceram no início da década de 1990, quando trabalhavam no
Belenzinho, zona leste da capital. Em 12 de junho de 1998, Dia dos Namorados,
começou o flerte. No dia seguinte, o primeiro beijo. “Depois nunca nos
separamos, uma lutando pela outra.” Mas os problemas cresceram. Só restou a
separação. “Não penso em ter ninguém, amo ela, mas o melhor foi isso.”
A
união estável entre homossexuais foi reconhecida, em decisão unânime, no dia 5
de maio de 2011 pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Assim, os casais
homossexuais têm os mesmos direitos e deveres que a legislação brasileira
estabelece para os heterossexuais.