Municípios não informam corretamente como gastam dinheiro da educação

Nas
contas dos municípios – pelo menos no que se refere à educação – o detalhamento
dos gastos é colocado de lado e as prestações de contas são mais relatórios que
vão cumprir a burocracia que instrumento de gestão e planejamento. Essa é uma
das conclusões que se pode tirar do estudo Perfil dos Gastos Educacionais nos
Municípios Brasileiros, realizado pela Undime (União Nacional dos Dirigentes
Municipais de Educação).
“Não
dá para dizer que uma criança de educação infantil custa R$ 3,75 por ano, como
fez uma prefeitura”, afirmou Cleuza Repulho, presidente da Undime. Numa
prestação de contas no sistema federal de controle de gastos (o Siope - Sistema
de Informações sobre Orçamentos Públicos em Educação), um secretário municipal
informou esse valor.
Segundo
o relatório da Undime, “não há controle prático sobre os gastos que
efetivamente são registrados nos balanços contábeis como realizados para
manutenção e desenvolvimento da educação”. Para se ter uma ideia, os municípios
foram responsáveis por 39,1% das verbas investida no setor em 2009, contra
19,7% da União segundo um estudo publicado pelo Ipea no final do ano
passado.
Por
determinação constitucional, os municípios são obrigados a aplicar pelo
menos 25% da arrecadação de impostos e transferências em educação.
Erro
A
tentativa (frustrada) de levantar o perfil dos gastos educacionais dos
municípios brasileiros fez a Undime perceber que muitas secretarias não
informam corretamente os valores ao Siope e, portanto, ao MEC (Ministério da
Educação). Os formulários deveriam ser preenchidos pelos secretários municipais
de educação de cada cidade, mas o estudo concluiu que, muitas vezes, essa
atividade é terceirizada para escritórios de contabilidade.
Não
haveria problema se os gestores mantivessem controle sobre quanto e como é
gasto o orçamento da educação. Com isso, os dados oficiais sobre os
investimentos em educação acabam distorcidos. A situação fica mais
delicada no contexto da tramitação do PNE (Plano Nacional de Educação) na Câmara
dos Deputados, em que uma das principais disputas é justamente o percentual do
PIB investido na área.
Diante das inconsistências observadas no sistema federal, a Undime entrou em contato com prefeituras de mil municípios para realizar um estudo próprio, porém, muitas delas não responderam ao questionário ou apresentaram dados imprecisos. A região Norte, por exemplo, ficou de fora da estimativa sobre gastos por aluno com creche e EJA (Educação de Jovens e Adultos) e o Estado do Amapá não teve nenhum questionário respondido. O estudo final contou com apenas 224 municípios, o que representa 22,4% da amostra inicial.
Para a presidente da Undime, “os prefeitos devem ter nos secretários de
educação um parceiro que saiba gerir as verbas de acordo com a necessidade do
município”. Ela também afirma que o problema principal não é gestão e sim a
falta de recursos. “Quando a gente consegue concentrar dinheiro e esforços faz
toda a diferença para a qualidade da educação”, disse.
Gastos
por aluno
Com
os dados disponíveis, a Undime concluiu que o Nordeste gasta 4,4 vezes menos
que o Sudeste por aluno na creche. Já, no ensino fundamental, a primeira região
gasta pelo menos duas vezes menos que a segunda. “Nenhuma criança pode ter a
sorte ou o azar de nascer em um local onde o gestor seja mais ou menos
comprometido com a educação”, afirmou Cleuza sobre as desigualdades apontadas
no estudo.