Demanda chinesa por gelatina ameaça jumentos brasileiros com risco de extinção

Uma crescente demanda da China por um tipo específico de gelatina está colocando em risco a sobrevivência de jumentos no Brasil. O produto, conhecido como ejiao, é feito a partir do colágeno extraído da pele desses animais e é usado tradicionalmente na medicina chinesa para tratar problemas de circulação sanguínea e como tônico para vitalidade.

Nos últimos anos, frigoríficos especializados em abate de jumentos têm surgido em estados do Nordeste brasileiro, especialmente na Bahia, com o objetivo de atender ao mercado asiático. Segundo levantamento da Agência de Defesa Agropecuária da Bahia (Adab), apenas entre 2023 e 2024, mais de 70 mil jumentos foram abatidos no estado.

Entidades de proteção animal alertam para o desaparecimento iminente da espécie. De acordo com um estudo da ONG The Donkey Sanctuary, o Brasil pode ver o jumento desaparecer em menos de uma década caso o ritmo de abate continue no atual patamar. A preocupação é maior porque os jumentos têm baixa taxa de reprodução e são historicamente usados por comunidades rurais como meio de transporte e trabalho.

O Ministério da Agricultura já foi acionado para reavaliar a concessão de licenças para abate. Além disso, um grupo de parlamentares articula a aprovação de um projeto de lei que proíbe a exportação de peles de jumentos para a China.

Especialistas chamam a atenção também para as condições precárias de transporte e abate dos animais. Relatórios recentes apontam casos de maus-tratos e falta de fiscalização sanitária nos estabelecimentos que operam essa cadeia de exportação.

A mobilização para salvar os jumentos do risco de extinção tem ganhado força nas redes sociais, com campanhas de conscientização e pedidos para boicote ao comércio de ejiao. Pesquisadores e ambientalistas reforçam a necessidade de políticas públicas urgentes para garantir a preservação da espécie, fundamental para a cultura e a economia de muitas regiões do semiárido brasileiro.